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•Maior dificuldade ao usar os recursos da
linguagem para pensar, raciocinar e relembrar informações.
•Uma capacidade de memória auditiva de
curto-prazo mais breve, o que dificulta o acompanhamento de instruções faladas,
especialmente se elas envolvem múltiplas informações ou ordens/orientações
consecutivas. Essa dificuldade pode, entretanto, ser minimizada se essas
instruções forem acompanhadas por gestos ou figuras que se refiram às
instruções dadas.
•As crianças portadoras de Síndrome de Down se
beneficiarão de recursos de ensino que utilizem suporte visual para trabalhar
as informações.
• É imprescindível que às crianças
portadoras de Síndrome de Down seja dada toda a oportunidade de mostrar que
compreendem o que lhes foi dito/ensinado, mesmo que isso seja feito através
de respostas motoras como apontar e gesticular, se ela não for capaz de
fazê-lo exclusivamente de forma oralizada.
Bower e Hayes (1994: 49) alertam para as
repercussões desses achados na escolarização dos portadores de Síndrome de
Down:
“Este estudo tem algumas implicações
práticas para crianças, adolescentes e adultos com Síndrome de Down e tem
enfatizado que crianças com Síndrome de Down têm necessidades educacionais
relacionadas às dificuldades específicas que elas apresentam na área de
processamento da memória de curto-prazo, e conseqüentemente no
desenvolvimento da linguagem expressiva e receptiva. Esses achados são
importantes para pais, educadores, terapeutas e pesquisadores ligados ao desenvolvimento
continuado das pessoas com Síndrome de Down.”
Caycho e colaboradores (1991) investigaram a
cognição matemática do portador de Síndrome de Down, principalmente quanto à
habilidade para contar, concluindo que o portador de Síndrome de Down é capaz,
sim, de desenvolver princípios cognitivos de contagem, estando o nível de
complexidade dessa habilidade mais relacionada a comportamentos envolvendo
esses princípios, do que a limitações impostas pela base genética da
síndrome; discordando de resultados anteriormente apontados por Gelman, em
1988. Outras investigações também têm posto a relação entre dificuldades na
cognição matemática e especificidades “estruturais” da síndrome em xeque (Nye
et al. , 2001). Estes pesquisadores apontam resultados de pesquisas
que relacionam dificuldades no raciocínio lógico-matemático, principalmente à
habilidade de aprender a contar, há uma defasagem na linguagem receptiva, na
qual estão envolvidas a memória e o processamento auditivo de informações.
Considerações adicionais quanto aos processos
cognitivos das crianças portadoras de Síndrome de Down, agora relacionadas
aos estilos de aprendizagem e à motivação para o aprendizado, são encontradas
em Wishart (1996, 2001). Ela sugere evidências de que, de forma geral, podem-se
observar três características centrais nos processos espontâneos de
aprendizagem dessas crianças:
• Um crescente uso de estratégias de
“fuga”, quando confrontadas com a aprendizagem de novas habilidades,
• Uma crescente relutância para tomar a
iniciativa em situações de aprendizagem,
• Uma sobre-dependência de outros ou uma
má utilização de habilidades sociais. Foreman e Crews afirmam que o uso
interligado de sinais (imagens/gestos) associados à fala, na comunicação com
crianças portadoras de Síndrome de Down que ainda não desenvolveram a
linguagem (bebês e crianças até 03 anos), pode reduzir as dificuldades de
comunicação encontradas por essas crianças mais tarde, melhorando o padrão da
fala e o conteúdo da linguagem.
Buckley e Bird (1994, cap. 4), discutem várias
formas de impulsionar o aprendizado matemático do portador de Síndrome de
Down, considerando principalmente relevantes a utilização/ensino
interdisciplinar (tanto em relação aos professores e pais, quanto em relação
aos terapeutas) de vocabulário matemático, como por exemplo, aquele
relacionado a medidas, volume, comparações, quantidade, ações – ponha mais
um, quantas vezes você jogou...- e o uso de suportes para manter presente e
recuperar a informação, tais como ábaco, quadros numerados, cartões com
quantidade/numeral em relevo, números de borracha/plástico, objetos de
contagem, computador, entre outros.
Concluindo que os portadores
de Síndrome de Down devem se desenvolver da mesma maneira, com limitações de
aprendizagem e de desenvolvimento cognitivo, assim como de habilidades
sociais e de peculiaridades comportamentais, até agora “conhecidas”.
Entretanto, vários estudos contrabalançam essa
tendência, apontando que o desenvolvimento do indivíduo portador de Síndrome
de Down é, tanto quanto o de qualquer não portador, resultante de influências
sociais, culturais e genéticas; incluindo-se aí as expectativas havidas em
relação às suas potencialidades e capacidades e os aspectos
afetivo-emocionais da aprendizagem. Deve-se então observar que, muito embora
os portadores de Síndrome de Down apresentem características peculiares de
desenvolvimento, isso não se constitui numa uniformidade a predizer
comportamentos e potencialidades. Mesmo do ponto de vista genético é preciso
lembrar, como alerta Jackson-Cook (1996), que o portador de Síndrome de Down
também possui 22 outros pares de cromossomos, que lhe conferem um pool de
diversidade.
A ação educacional ou terapêutica adotada em
relação ao portador de Síndrome de Down precisa levar em consideração a
concepção de que há necessidades educacionais próprias de aprendizagem
relacionadas a especificidades resultantes da síndrome, que devem ser
investigadas, reconhecidas e trabalhadas através de técnicas apropriadas,
sendo importante a adoção de uma diversidade de recursos instrucionais – e de
outras compreensões do tempo/espaço escolar e pedagógico – de maneira a
propiciar que as informações sejam mais efetivamente
compreendidas/interpretadas. Por outro lado, as ações educacionais e
terapêuticas devem também se levar em conta o entendimento de que cada
portador de Síndrome de Down possui um processo de desenvolvimento
particular, fruto de condições genéticas e sócio-históricas
próprias. As políticas de Educação Inclusiva 4 também encontram raízes e
justificativas nessa idéia.
Acredita-se que o desenvolvimento cognitivo do
portador de Síndrome de Down será tão mais efetivo quanto menor forem os
estereótipos a limitarem as concepções que se tem desse.
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