Minha Malévola favorita.
Minha Malévola favorita.
Dedico este texto à Carla Akotirene.
Como não se lembrar de tantas mulheres
negras com este filme? Como não recordar que vilã sempre tem uma história mal contada
e sem aprofundamento. No filme Malévola, muitas destas respostas quando não
respondidas, há uma indução as respostas.
A história da humanidade aponta que os
seres humanos tem uma tendência a justificar a maldade, nunca é oriunda de uma
pessoa, mas de ser transcendental que nunca teria como se defender. Quando comete erros, assumir é uma ferida que
não cicatriza, mas afirmar que foi uma mulher de chifres e asas, é um curativo
que não arde.
Quando a personagem Malévola no seu
momento de ira, por causa das injustiças cometidas por um reinado patriarcal
afirma que aquele homem que se definia rei, não era um rei para ela, como não se
lembrar do discurso de tantas militantes do movimento negro e de mulheres?
Quando elas afirmam que é necessário
construir um novo movimento ao lado do movimento feminista branco e do
movimento negro heteronormativo, elas estão inferindo que: Esta tua bandeira
não é a minha, esta tua pauta não me comtempla, não tenho que te obedecer, seu
reinado não diz nada para nós.
E quando decidimos institucionalizar os
movimentos, porque as mulheres negras sempre foram corporativistas, somos
chamadas de louca, taxadas como um grupo que apenas quer enfraquecer a luta,
problemáticas, descompensadas, frustradas, e a pior parte disso, é que falam
tanto que muitas das nossas acabam acreditando.
Assim como Malévola foi ferida,
humilhada e taxada de insana, mas não volta atrás e continua a luta, muita de
nós, negras, fazemos o mesmo, pois não temos a chance de não lutar, o racismo e
o machismo não dorme, mas para o azar deles, nem quem nos protege cochila.
Revisitar os clássicos é uma tarefa
comum na sociologia, e está se tornando habitual no cinema, com novas versões
sobre histórias infantis, repensar quem seria a bruxa da Bela Adormecida, e
entender o porquê de tanta maldade é não deixar escapar o que tem de melhor na
história, o contexto, os pormenores.
E toda militante negra precisa refletir
o porquê de ser taxada de louca, como se a loucura fosse um diagnóstico tão
objetivo. A loucura está em aceitar e naturalizar o machismo e racismo. É
acreditar que a outra irmã negra é sua maior rival e que o palácio encantando
está na zona sul do Rio de Janeiro, onde fica o travesseiro aconchegante do
sono eterno e sem volta.
Toda mulher negra nasce com o estigma de
vilã, pelo corpo lindo e pela pele que brilha, toda mulher negra nasce heroína,
pela luta diária que com toda certeza terá, toda mulher preta, nascerá assim:
Carla Akotirene, Angela Davis, Toni Morrison, Vilma Reis, Lindinalva Barbosa,
Vera Lopes, Emannuele Góes, Valdecir Nascimento... Eu!
Elisia Santos
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirhttp://www.aldeianago.com.br/outros-baianos/8670-sera-mesmo-que-algumas-mulheres-brancas-estao-preferindo-homens-negros-por-gilson-rego
ResponderExcluir