Novembro negro com leituras.
A dica de livro
desta semana é: BALADA DE AMOR AO VENTO.
Por: Elisia Santos
O livro Balada de amor ao vento, é da escritora moçambicana
Paulina Chiziane. Esta inicia sua carreira literária em 1984, com contos
publicados e lança seu primeiro livro em 1990, tornando-se a primeira mulher
moçambicana a publicar um romance.
Chiziane participa
organicamente da política de Moçambique como membro da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), na qual militou
durante a juventude. É considerado um marco da literatura negra, uma indicação
de leitura africana primaz.
Em seu romance,
supracitado, o enredo acontece nos anos de colonização de Moçambique, ela aborda
a questão de gênero e raça atreladas as transformações da cultura tradicional
moçambicana. A autora conta a história da personagem Sarnau, uma mulher negra, que
parece como retrato fiel de outras mulheres de Moçambique. Está tem muitas dificuldades
nos relacionamentos amorosos, se relaciona a princípio com Mwando, depois com o
Rei Nguila, e, por último, novamente com Mwando.
Contudo nestas
relações “amorosas” há diversas formas de violência: moral, simbólica, psicológica
e a física, além da subserviência, solidão, a dura competição entre as mulheres
e o tão requisitado silenciamento da mulher negra.
Isso tudo é
reflexo de uma sociedade misógina, racista e poligâmica. Este é um dos temas centrais
do texto, e fortemente criticada pela narradora/ autora na construção do enredo,
além disso, o conflito racial é apresentado no livro desde o início, pois, depois
de Mwando deixar Sarnau para casar-se com outra mulher, a protagonista é
escolhida pela rainha como a futura esposa do filho, Nguila.
Deverás, a
narrativa não problematiza o tema da subvalorização da mulher negra com
digressões, explicações, mas deixa a informação como pano de fundo para
explicar, aos poucos, muitas das agruras por que passa Sarnau. A realeza estava
à procura de uma mulher para o príncipe desposar, mostrando que as mulheres de
pele mais clara era algo realmente cristalizado no contexto em questão como
mais bonitas e desejadas para o casamento.
No último trecho do
romance de Chiziane podemos confirmar essa ideia. Quando a rainha procura uma
princesa, e ainda não encontrou Sarnau e vai conhecendo várias pretendentes ao
cargo. Uma delas, Eni, que é totalmente rechaçada em função da miscigenação e
de seu clareamento (por ter lábios finos). A única cena, pois, em que a mulher
mais clara não é tida como mais bela (e em que a antiga ofensa que compara
negros a macacos é invertida, sendo dirigida à pessoa mais clara do contexto),
é justamente quando a voz discursiva é de outra mulher negra.
Neste livro as
mulheres Negras retintas são valorizados, fugindo completamente a regra dos
livros, filmes, séries e do nosso imaginário de beleza (É preciso se colocar
como sujeito do racismo e reprodutor deste). Chiziane mostra o colonizador com
o discurso hegemônico.
Por vezes, através
da linguagem verbal, explícita, direta, outras indiretas, mas que são pontuais
e efetivas. Pelo discorrer do texto percebe-se que o ser negro não era uma
coisa positiva no local onde viviam, um efeito psicológico difícil de ser
combatido à medida que o tempo passa e as relações de poder se sedimentam.
Sarnau é menosprezada
ao longo do texto, e seu companheiro não parece demonstrar nenhum remorso em
deixa-la sozinha, mesmo estando casada, ele fica dois anos sem ter relações afetivas
com a esposa, levando a personagem ao sentimento de desprezo. Como o próprio
príncipe admite, seu grande amor é Phati, pois é a mais bonita, não
coincidentemente, é a mais clara das esposas. Não poderíamos presumir, sem
nenhuma base, que é apenas por Phati ter a pele mais clara que é mais amada,
evidentemente.
Neste enredo a
autora deixa evidente que nas sociedades colonizadas as mulheres tidas como
dignas de um casamento e de maior investimento afetivo, preocupação e cuidados são
mulheres negras de pele mais clara. A partir daí, ficam posto algumas relações
que atravessam o oceano Atlântico e aportam no Brasil – na moldagem de relações
sociais marcadas por concepções sobre raça e gênero construídas dentro do
contexto da colonização.
Chiziane discorre
um tema muito caro para nós, através dessa narrativa de ficção conseguimos
fazer parte da trama. Ela confirma, também, a solidez da tendência de dar
importância às literaturas como caminho de compreensão do mundo fora da ficção.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA.
CHIZIANE,
Paulina. Balada do amor ao vento. Lisboa: Editorial Caminho,
2003.
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