Epistemologia, teoria e metodologia.


Ensino e Pesquisa em Sociologia
Por: Elisia Santos.

Introdução

Inicialmente apresentaremos informações pertinentes à Epistemologia, Teoria e Metodologia, bem como reflexões acerca do conhecimento científico e realidade social e abrangência das principais correntes teórico-metodológicas na Sociologia.

Epistemologia, teoria e metodologia

O que significa Epistemologia? Alguns autores a denominam de filosofia do conhecimento. É um desdobramento da Filosofia que possui por objeto o estudo e análise da origem e estruturação do conhecimento.
Todas estas questões não são recentes, Platão já discutia sobre algumas destas, mas na modernidade os debatedores iniciais mais relevantes foram Descartes (1596-1650) e Locke (1632-1704).
Há certa diferenciação entre o “saber que” (conhecimento proposicional) e o “saber como” sendo a epistemologia centrada no estudo do primeiro.
Platão já diferenciava crença (opinião aleatória) de conhecimento em si, definindo que crença seria uma percepção de natureza individual e o conhecimento seria uma espécie de crença dotada da verdade.

Apesar da discussão sobre o conhecimento ter tido seu início na Grécia, foi a partir do século XVIII que a ciência passou a ser melhor definida.
Assim para haver o conhecimento “verdadeiro” é necessário a conjunção de fatores, como a crença e esta ser dotada de razão, sendo está baseada em um requisito que seja satisfatório.
Ao estudar como o conhecimento é adquirido há duas escolas que assumem um papel importante – a escola Racionalista e a escola Empirista.
Bertrand Russell ressalta que “O empirismo pode ser definido como a asserção de que todo conhecimento sintético é baseado na experiência”.
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Bertrand Russell
A concepção empirista salienta que a responsável pela aquisição seria a experiência, mais especificamente a sensorial. Os sentidos e os instrumentos que auxiliassem na maior percepção destes também teriam este comprometimento para com a obtenção do conhecimento, sendo esta forma a única para a obtenção daquele.
Mas não era toda e qualquer experiência que o ensejava e o que o permitia gozar da validade e sim aqueles que resultavam de uma observação metódica ou quando se fundamentava em pesquisa de dados verificados a partir da realidade.
Há três desdobramentos da concepção empírica: a integral, a moderada e a científica.
O empirismo integral é uma modalidade mais radical em que engloba todos os conhecimentos dentro da forma empírica, como se fossem oriundos do contato direto com a experiência.
Quando há uma centralização na indução ou na experiência sensível, pode-se denominar desensismo (ou sensualismo).
O empirismo moderado (genético-psicológico) ressalta que a origem, o início dos conhecimentos adviria da experiência, mas não se focaria nesta a questão da validez do conhecimento, considerando os casos de juízos analíticos que não podem ser empiricamente válidos.
Existe também o empirismo científico que defere validez a espécie de conhecimento oriundo da experiência.
Enquadra-se nesta esfera ainda os conhecimentos que podem ser verificados experimentalmente, sendo os juízos analíticos inseridos em fórmulas lógicas.
Para os racionalistas, a razão possui esta função de promover a aquisição do conhecimento e eles utilizam como paradigmas a lógica e as contribuições matemáticas. E por meio da inferência tida como racional seriam obtidas as verdades.
No racionalismo, a razão possui função fundamental no processo de conhecimento (cognoscitivo), tendo em vista que os fatos são frágeis como originários do processo e no requisito da certeza.
Dentre os racionalistas relevantes estão Gottfried Leibniz e Reneé Descartes.
O primeiro diferencia em uma de suas obras (Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano) duas formas de verdade de fato e as verdades de razão, que possuem certeza.
Já René Descartes explica que todos os indivíduos possuiriam ideias inatas das quais seriam uma espécie de fundamento lógico para a percepção, era filiado ao denominado inatismo.
Ambos pensadores visavam racionalizar a realidade, explicá-la com grau de certeza.
Aristóteles também se inseria na corrente racionalista, denominada intelectualismo, que relaciona o conhecimento à inteligência.
As verdades da razão como assim denominadas por Aristóteles somente seriam demonstradas ou encontradas com a coordenação realizada pelo intelecto.
Haveria ainda uma última concepção do racionalismo, o criticismo.
Esta é vista com cautela como sendo uma corrente autônoma.
O criticismo realiza uma crítica, em verdade, seria uma análise apurada e metódica acerca do conhecimento e suas espécies, procura explicar e compreender a relação entre sujeito e objeto dentro da seara de cada concepção cognoscitiva.
O conhecimento também pode ser classificado conforme sua essência em Realismo e Idealismo. O realismo também subdivide-se em ingênuo, tradicional e crítico.
Quanto à possibilidade do conhecimento, há ainda uma diferenciação entre o Dogmatismo e o Ceticismo.
O primeiro salienta poder conhecer verdades universais quanto ao indivíduo sem restringir-se à pura razão ou a meros fenômenos.
Já o ceticismo possui uma espécie de atitude dubitativa em relação a concepções mesmo que estas sejam empíricas. É a posição de cautela, de desconfiança em relação às demais correntes de pensamento.
Racionalismo X Empirismo - http://www.youtube.com/watch?v=DCNU-HDo2bY
No que tange à teoria, esta possui sua origem etimológica na Grécia, mais especificamente na palavra “theorein” que significa “observar”.
A definição de teoria está relacionada a algo não totalmente real, algo em processo de construção, provisório.
Evidente que como todo conceito, este também evoluiu e transformou seu significado, referindo-se à habilidade de compreensão da realidade não só a partir das chamadas experiências sensíveis, expressando tal entendimento por uma determinada forma.
Há dois elementos importantes que podem ser utilizados como instrumentos ou partes integrantes na construção de uma teoria – conjecturas e hipóteses.
A conjectura é uma suposição, especulação sem ter sido realmente verificada. Já a hipótese, são observações verificadas, demonstradas. Estas podem evoluir para uma teoria ou não, a depender da sua concepção de ser verdadeira, sendo falsa, não haverá mais desdobramento.
Outra situação que não pode ser confundida é a noção de método e técnica. A Metodologia, num nível aplicado, examina e avalia as técnicas de pesquisa bem como a geração ou verificação de novos métodos que conduzem à captação e processamento de informações com vistas à resolução de problemas de investigação.
Desta forma, a metodologia teria dois desdobramentos, um teórico (epistemológico), o qual corresponderia ao estudo dos métodos, a segunda acepção do termo seria referente às técnicas de coleta de informações.
O método poderia ser dividido em “método de abordagem” e “métodos de procedimento”. O primeiro pode ser desdobrado em método indutivo, método dedutivo, método hipotético-dedutivo e método dialético.
O segundo relaciona-se à investigação de fenômenos e subdivide-se no método-histórico, comparativo, monográfico ou estudo de caso, estatístico, tipológico, funcionalista, estruturalista e etnográfico.
Resumão:

Método sistêmico: Em algumas ciências como a sociologia, o direito entre outras, os fatores humanos, sociais e ecológicos demandam uma abordagem mais ampla dos problemas investigados, sob pena de se obter uma solução parcial. A abordagem sistêmica amplia os horizontes da pesquisa diante de problemas complexos (que envolvem várias ciências e várias disciplinas) já que introduz a interdisciplinaridade necessária à observação de problemas complexos.
Método fenomenológico: Idealizado inicialmente por Brentano, o método foi desenvolvido por Husserl (1859-1938). O método fenomenológico não é dedutivo nem indutivo. Preocupa-se com a descrição direta da experiência tal como ela é. A realidade é construída socialmente e entendida como o compreendido, o interpretado, o comunicado. Então, a realidade não é única: existem tantas quantas forem as suas interpretações e comunicações. O sujeito/ator é reconhecidamente importante no processo de construção do conhecimento (GIL, 1999). Empregado em pesquisa qualitativa.
Estratégias de coleta de dados são:
1.     Entrevista: os participantes descrevem verbalmente suas experiências de um fenômeno.
2.     Descrição escrita de experiências pelo próprio participante.
3.     Relatos autobiográficos em forma escrita ou oral.
Método dialético.

O conceito de dialética é utilizado por diferentes doutrinas filosóficas (dialética socrática, platônica, hegeliana e marxista) e, de acordo com cada uma, assume um significado distinto.
O método dialético (aplicável em ciências) fundamenta-se na dialética proposta por Hegel, na qual as contradições sobre um dado problema podem ser superadas, com uma análise racional dos argumentos contrários.
Os elementos do esquema básico do método dialético são a tese (teoria sobre um problema) a antítese (outra teoria sobre o mesmo problema) e a síntese (harmonização das teorias contrárias).

MÉTODOS DE PROCEDIMENTO

Método histórico

(Boas): investiga acontecimentos passados, para verificar sua influência na atualidade. Segue uma cronologia. Muito utilizado no primeiro capítulo de monografias. Ex.: pesquisa do passado dos elementos constitutivos dos vários tipos de família, para descobrir as causas da decadência da aristocracia cafeeira.

Método comparativo

(Tylor): considera semelhanças e diferenças entre grupos, sociedades, povos, épocas, fatos, normas, a fim de compreender o comportamento humano. Ex.: comparação do modo de vida rural e urbano no estado de São Paulo, geralmente opera-se com o método indutivo, inferindo da observação dos fenômenos uma constante. Combina bem também com o método dialético.

Método tipológico

(Max Weber): semelhante ao comparativo, mas ao comparar fenômenos o pesquisador cria tipos ou modelos ideais. Ex: Compara todos os tipos de governo democrático, estabelecendo as características típicas ideais.

Método dogmático-jurídico

Estuda a lei, a doutrina e a jurisprudência, cabendo-lhe inter-pretar as normas elaboradas pelo legislador, investigando sua intertextualidade com outros instrumentos afins.

Método de estudo hermenêutico

Hermenêutica - é a ciência da interpretação. No caso de pesquisas científicas refere-se ao estudo da interpretação de textos, especialmente na área da literatura, religião, direito etc. As operações hermenêuticas tentam tornar compreensíveis conteúdos proposições, pressupostos. No Direito, por exemplo, é a operação que tem por objeto precisar o conteúdo exato de uma norma jurídica ambígua ou obscura, para sua adequação ao caso concreto. O verdadeiro objetivo desse tipo de pesquisa é determinar o sentido e alcance de uma lei.

Método da diferença
Também chamado de método das variações concomitantes. Consiste em fazer variar a intensidade da causa para verificar as variações do fenômeno. É o método de resíduos, ou seja, separando-se de um fenômeno o fator que é o efeito conhecido, o resíduo do fenômeno pode ser considerado efeito dos antecedentes que restaram.

Métodos para saber coisas:


Explicação:

Estudo de caso.

O estudo de caso é um termo guarda-chuva para uma família de métodos de pesquisa cuja principal preocupação é a interação entre fatores e eventos. [Bell, 1989].
O método de estudo de caso é um método específico de pesquisa de campo. Estudos de campo são investigações de fenômenos à medida que ocorrem, sem qualquer interferência significativa do pesquisador. Seu objetivo é compreender o evento em estudo e ao mesmo tempo desenvolver teorias mais genéricas a respeito dos aspectos característicos do fenômeno observado. [Fidel, 1992]. (Liga-se ao raciocínio por indução)

Combinações comuns:
Método indutivo (parte da observação de casos particulares e exemplos em direção a uma regra ou generalização) combina bem com Método de procedimento estatístico (quando há a tabulação dos dados encontrados).
Método indutivo combina também com procedimento estudo de caso (a partir de uma situação é possível ampliar ou predizer uma regra - cuidado com generalizações apressadas ou excessivas).
Método dialético (teses/antíteses e síntese) combina com procedimento comparativo (confrontando argumentos e teorias contrárias) e histórico (apresenta a evolução das teorias em análise).
Método dialético (comparação entre teorias contrárias) combina com dedução (aplicação de uma regra geral a um caso concreto).
Método dedutivo (do geral para o particular) combina com procedimento histórico (percursos de evolução de um dado instituto).
A função precípua do cientista seria a lapidação dos fatos que se encontram em sua forma bruta para uma linguagem específica.
Não se pode confundir esta lapidação com poder de atuar ou modificar o fato, porém não há poder sobre o fato, que se impõe de forma objetiva.
A ciência busca o conhecimento e por meio deste alcançar a verdade.
O conhecimento como já dito seria a crença verdadeira e justificada.
A ciência real tem modos de se desenvolver. A dedução e indução são alguns destes.
O método científico indutivo é o que organiza de forma sistemática os dados coletados visando a percepção das regularidades e constâncias.
Já o dedutivo, não se origina da observância da realidade, mas de preceitos elaborados anteriormente.
O cientista possui a difícil missão de ser isento do seu objeto de estudo. Faz-se mister a imparcialidade e objetividade para com a realidade que se encontra presente.
A realidade é construída, não por uma, mas por várias ciências, não sendo objeto de uma única.
A teologia formou um mito acerca do conhecimento científico, tudo que era analisado ou tentado realizar com este método era considerado heresia e duramente punido.
Hoje o conhecimento científico possui uma grande importância, é vislumbrado como possibilidade de originar, transformar e até exterminar, extinguir aspectos existentes na própria realidade.
Definir realidade é um processo complexo. A realidade é basilar da conduta ou atividade humana. É difícil conceituá-la, pois é de difícil construção já que não é natural e sim construído.

Referências.

HETHERINGTON, Stephen; Instituto Piaget. Realidade, conhecimento, filosofia- uma introdução à metafísica e à epistemologia. 2007.
TOSSATO, Claudemir Roque. O conhecimento cientifico - Vol. 25. Ed. Martins Fontes. 2013.
DEMO, Pedro. Metodologia do conhecimento cientifico. ATLAS. 2009.
POCINHO, Margarida. Metodologia de investigação e comunicação do conhecimento científico. Lidel – Zamboni. 2012.
SANTOS, Antônio Raimundo dos. Metodologia científica - a construção do conhecimento. Lamparina. 2007.

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