Objetividade e subjetividade na educação por uma ótica fenomenológica.
Uma abordagem fenomenológica hermenêutica
da educação tem como tarefa “descobrir o sentido que acontece manifesta (...) mas
tende a deixar encoberto para si mesmo, exatamente quando o dá por explícito e
claro”. O trabalho interpretativo sobre a “manifestação-ocultamento do desejo”,
como diz Antônio Muniz Rezende, requer a crítica da ideologia, que consistira
em “tornar plenamente manifesto o desejo que se oculta”, através de “redução do
dito ideológico a respeito do desejo, para redescobrirmo-lo como tal na
experiência vivida”.
Na experiência vivida, um certo desejo
cognitivo assume várias formas, quer dizer, metamorfoseia-se e impõe um
trabalho constante de interpretação.
A fenomenologia colabora para apresentar a insuficiência
do modelo positivista: “a interrogação se mantém viva porque a compreensão do
fenômeno não se esgota nunca”, na expressão de Maria Inês Fini. O fenômeno é
“aquilo que surge para a consciência e se manifesta para esta consciência como
resultado de uma interrogação”.
Não há oposição entre objetividade e
subjetividade, por princípio, visto que a própria a subjetividade “permite
alcançar a objetividade. É a subjetividade que vai permitir graus diferentes de
objetividade”. O que significa que a “subjetividade, nesta abordagem, não é
evitada, mas desejada, pois tudo o que é objetivo foi antes subjetivo”.
Tudo o que o modelo positivista de ciência
e suas metamorfoses querem obliterar é essa antecedência do subjetivo, essa
redução das coisas sociais (Schutz) e das coisas científicas às atividades
humanas.
O modelo positivo explica as coisas na sua exterioridade.
É como se houvesse apenas o exterior, e o próprio ser humano fosse exterior a
seus produtos e objetos, a suas análises e teorias. Ainda, é como se os objetos
fossem unidades e produtos humanos sem profundidade, vazias, ocas, objetivas –
apenas um quantum. Não é a isto mesmo que induz a palavra quantum:
a referência a uma porção... de alguma coisa? Por isso, o enfoque
fenomenológico chama a atenção para a separação de um objeto (de ciência) dos
demais fenômenos, a dicotomização, a especialização, a redução do científico ao
nível do fazer técnico. A fenomenologia
realiza um “resgate do empírico”.
O mundo social podem e, para certos
propósitos têm de referir-se ao significado subjetivo das ações dos seres
humanos, dos quais se origina a realidade social.
O ganho epistemológico e ontológico que
obtemos com a investigação qualitativa pode ser posto nos seguintes termos: no
lugar de pensar nas relações entre o subjetivo e objetivo em termos dicotômicos
ou causais, conceberemos essa relação em termos de ramificações múltiplas do
subjetivo no objetivo.
Do ponto de vista fenomenológico, há um modo
de ser da pesquisa qualitativa, bem como da pesquisa quantitativa, pois, tanto
uma como a outra manifesta e oculta o “modo de ser/estar” do humano. A
fenomenologia nos oferece a possibilidade de levar a investigação sobre a
qualidade em educação a outros níveis que aquele em que se verifica reserva
mútua entre pesquisadores “positivistas” e os defensores da pesquisa
“qualitativa”. Teríamos, assim, condições de pensar o problema da pesquisa, do
ponto de vista epistemológico e metodológico, antes que pesquisadores se
oponham entre si?
A potencialidade do sujeito fenomenológico está em insistir na condição aberta da interpretação e, portanto,
compreender a sua condição: o sujeito-das-instituições, o sujeito-instituído é
também – sobretudo – sujeito-instituinte. Os prejuízos ontológicos de uma setorização
nas pesquisas educacionais são o de separar os “sujeitos”, tratando, de um
lado, do processo de institucionalização dos sujeitos e de suas relações sociais,
e, de outro, aspectos de sua formação.
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