As marés da educação com as novas tecnologias.



Introdução.

Pensar em pós-modernidade é saber que vamos falar de tecnologia. Os avanços no ramo industrial foi para além dos modelos fordista e Toyotista, adentram o cotidiano de todos indivíduos, modificando sua forma de pensar e agir. Para Castro apud Terry Shinn (2008) quando se pensa em tecnologia e atualidade é refletir uma:



Modernidade, que a tecnologia expressa três imperativos inevitáveis:
Primeiro, a tecnologia significa arregimentação numa escala jamais vista, o que contrasta totalmente com a maioria dos ofícios pré-modernos ou mesmo com as antigas atividades manufatureiras. O trabalho e os trabalhadores devem ser arregimentados, disciplinados e as tarefas transformadas em funções e integradas. A máquina tornou-se a palavra-chave para a tecnologia moderna. A configuração das fronteiras foi aqui central, estendendo-se à ciência, às disciplinas científicas e à comunicação entre elas, na mesma medida que à produção tecnológica.
Segundo a tecnologia estava ligada à ideologia comteana do progresso científico e humano. Esse conceito de progresso inevitável tinha sido inicialmente enunciado, no final do século XVIII, por Condorcet com referência ao conceito de progresso humano; assim, a filosofia de Condorcet e de Comte fundiram-se para tornar-se uma peça central da modernidade. Para Weber, esse amálgama de progresso técnico inevitável, o qual se estende para sempre e é fomentado pela força implacável da burocracia, aprisiona o homem em sua “gaiola de ferro”. O desencantamento do indivíduo deriva da falta de perspectiva, do fracasso ou da desesperança na felicidade devido a certos progressos agressivos da máquina tecnológica. Porque a espécie humana nunca pode esgueirar-se no passado, nem perscrutar seu destino futuro, não há lugar seja para o desencantamento, seja para a esperança perplexa.
Terceiro, a tecnologia reduziu a margem de liberdade do indivíduo. Embora a modernidade represente um avanço nos direitos e deveres individuais, os espaços da liberdade e da liberação estão limitados, na modernidade, pelos imperativos da universalidade homogeneizadora, pela racionalidade inconstante e pela integração e funcionalidade tecnologicamente impostas. A obediência e o alinhamento constituem o âmago da hierarquia, a qual, por sua vez, constitui o fundamento da burocracia tecnológica e civil. (Castro apud SHINN, 2017)

Este formato de tecnologia adentra todas as instituições sociais e a escola não está escapa desta nova estrutura. Segundo Moran, temos uma ressignificação de conceitos, tais como o de infância, juventude, velhice, família, inclusão ou exclusão social e muitos outros, pois remodelam sociedades e identidades em todo o mundo.
A era das informações rápidas e de segredos e confissões escassas, e neste molde temos que pensar a educação, pois, a criação está exposta precocemente à um turbilhão de informações. Para Lima, o ser humano em contato com as tecnologias, utilizando-as como instrumentos para o alcance de seus objetivos diversos, não poderia ser diferente quando pensamos em termos educativos, já que elas podem servir como ferramentas para tal alcance.
A proposta deste artigo é apresentar a história da educação e tecnologia e discutirmos de que forma esta interseção entre educação e tecnologia tem seus pontos positivos e negativos, levando em consideração que estas relações podem dar certo até um ponto e precisar de modificações em outros.



Construção da educação e tecnologia.

A tecnologia está em todos os espaços, e por mais que falamos de uma sociedade líquida ou de relações vazias, não conseguimos pensar numa sociedade sem estes avanços. Segundo Lima, é impossível pensar no ser humano depois de ter descoberto o fogo, lançando mão de sua utilização, no entanto, conseguimos imagina-los receosos, evitando sua utilização por não saber como dominá-lo, ou por desconhecer seus benefícios, talvez a melhor discussão seja esta, como utilizar.
Moran afirma que:

Nesse novo contexto, ocorrem processos sociais profundos, gerando outros tipos de desigualdades, que vêm se agregar às existentes, de modo que mais diferenças sociais e econômicas são deixadas a descoberto, de forma contrastante, e iluminam novas formas de poder e controle social em uma sociedade de classes fortemente marcada pela marginalização das pessoas. Uma das contradições marcantes é a de que, ao mesmo tempo em que as forças impactantes caminham no sentido do reforço do poder e controle social, elas podem permitir dimensões democráticas, na medida em que as novas tecnologias de mídia, distribuídas com acesso livre e diversificadas, permitem mais fluidez e maior participação social. Evidentemente, as políticas educacionais desenvolvidas em nosso país não podem ser apartadas, ou mesmo se apartarem, do enfrentamento de tal contradição, ou seja, o uso das chamadas novas tecnologias de informação e comunicação (TIC) pode enveredar tanto para o recrudescimento do poder e controle social, quanto para o reforço de práticas democráticas. (MORAN, 2013)

As escolas e universidades que ainda mantêm o modelo tradicional, conservador e tecnicista com número excessivo de educandos(as) por sala, educadores(as) não especializados e com salários inferiores estão sendo descartadas massivamente. Os (as) educandos(as), pais, coordenação pedagógica, docentes e direção não aceita mais este modelo. Lima aponta que os jovens de hoje não aceitam mais aulas sem o uso da tecnologia, escolas sem equipamentos estão “fora da realidade” do mundo contemporâneo, desestimulando não somente os educandos(as), como também os educadores(as).
Se por ventura, a escola não desejar o uso da tecnologia em sala de aula é importante frisas que ela está presente por meio dos smartphones nas mãos dos alunos. Basta somente permitir seu acesso.
Lima ressalva que os professores precisam adquirir as habilidades necessárias para fazer uso das tecnologias, e isto não é somente para os alunos, mas também para si mesmo no quesito própria formação.

Para a UNESCO (2009), o professor é a chave para a melhoria da educação, bem como uma educação que acompanha as tecnologias. O órgão da ONU entende que a tecnologia não entrará na escola, mas já faz parte do cotidiano dos alunos e deve ser vista agora como um instrumento pedagógico, ou seja, como uma forte aliada e não como inimiga, sendo o professor o mediador dessas informações.
(...) para refletir mais acerca deste assunto, é certo que não estamos falando de tecnologias ultra avançadas que requerem do professor alta capacitação técnica, mas sim de algo que ele geralmente faz uso em sua própria casa, a caminho do serviço etc. São medidas simples que, se adotadas e devidamente reguladas, poderão levar educação com mais qualidade às comunidades locais. (LIMA,2017)

A tecnologia não agrega apenas no sentido de aprimorar as técnicas de transmissão de informações, mas, desenvolver criticidade na escolha das informações, o estudante é um ser ativo que também compreende e tem opinião sobre o conteúdo apresentado em sala de aula, o(a) educador(a) é o mediador.



Matriz SWOT: pontos negativos e positivos da educação e tecnologia.

Matriz SWOT é uma ferramenta da área de administração que serve para analisar os pontos fortes e fracos, e as oportunidades e ameaças de um negócio. Neste caso, vamos analisar uma interseção entre tecnologia e educação.
Todos(as) profissionais da educação tem uma preocupação com ensino de qualidade mais do que com educação de qualidade, deverás o ensino e educação são conceitos diferentes:

No ensino organiza-se uma série de atividades didáticas para ajudar os alunos a compreender áreas específicas do conhecimento (ciências, história, matemática). Na educação o foco, além de ensinar, é ajudar a integrar ensino e vida, conhecimento e ética, reflexão e ação, a ter uma visão de totalidade. Educar é ajudar a integrar todas as dimensões da vida, a encontrar nosso caminho intelectual, emocional, profissional, que nos realize e que contribua para modificar a sociedade que temos. Educar é colaborar para que professores e alunos – nas escolas e organizações – transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional – do seu projeto de vida, no desenvolvimento das habilidades de compreensão, emoção e comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e profissionais e tornar-se cidadãos realizados, produtivos e éticos. (LIMA,2017)

Educamos quando aprendendo a integrar em novas sínteses o real e o imaginário, isso é realizado ao longo da vida, os resultados da educação aparecem a longo prazo. Quanto mais avançamos em idade, mais claramente mostramos até onde aprendemos de verdade.
Por conta disso, educadores que são os “adultos” da relação devem ter ciência da necessidade de aprendizagem, reciclagem e observação de sua sala de aula. Educar é perceber quem está do outo lado.
Simplesmente retirar o celular, tablet ou dispositivos eletrônicos da mão do jovem, é um equívoco, é preciso pensar maneiras pedagógicas para utilização desta ferramenta.
Um ponto negativo é a utilização de aparelhos de forma desenfreada, deveras o positivo é o uso com supervisão adequada por parte do profissional professor. Contudo, temos alguns vilões como:

(...) o “copia e cola” nunca esteve tão demasiadamente presente na educação como nos dias de hoje. Atualmente, é possível ver plágios como nunca dantes, visto que as informações estão “soltas” por completo na internet. (LIMA,2017)

Os plágios sempre foram um dos principais problemas quando se avalia com trabalhos, atualmente temos sites que detectam quais partes foram plagiadas e a origem, por conta disso, é necessário propor atividades reflexivas, que façam o(a) educando(a) discorrer pessoalmente sobre o tema, com criticidade, usando a internet como aporte e referência.

Culpar” a internet e a tecnologia somente pelo fato do acesso mais rápido à informação é insensato, na visão de Mila Gonçalves, visto que o problema não está no acesso à tal informação, mas sim a maneira da metodologia avaliativa do professor que está sendo incorretamente empregada. (LIMA,2017)

Não podemos ter “medo” das novas tecnologias, as informações pesquisadas pelas tecnologias em sala de aula é só mais um recurso da origem da informação, ou seja, livros didáticos e demais conteúdos tradicionalmente utilizados são semelhantes aos que a tecnologia traz. O grande desafio é transformar a informação em conhecimento, exigindo as habilidades e capacidades do(a) educador(a).

Assim, há uma chance de que as informações que esteiam os currículos das formações inicial e continuada possam ser elaboradas a ponto de se transformarem em conhecimentos relevantes para o processo educacional/formativo. Já outra questão central presente no documento da CONAE se refere à relação entre as TIC e a denominada educação a distância. (LIMA,2017)

Devemos levar em consideração que as universidades ainda não dominam o uso da tecnologia em sala de aula, o desafio é capacitar educadores dos educadores, que poderia ser um ponto negativo, contudo, compreender que a origem do problema está em profissionais mal capacitados é o começo para se pensar um novo currículo e didática nas faculdades.



Consideração finais.

A tecnologia deve ser útil para o desenvolvimento da educação a fim de que possamos superar as desigualdades retroalimentadas pelo sistema capitalista. A construção de uma sociedade high tech (alta tecnologia) está cada vez tomando conta das gerações futuras e precisamos pensar de que forma vamos utiliza-las positivamente na educação.
Diversos autores apontam que as tecnologias educacionais devem ser difundidas através de campeonatos de robótica, feiras, olimpíadas escolares, mostras educacionais, premiações diversas, apoio a projetos inovadores, à tomada de decisão etc.
Moran afirma que educar é ajudar a integrar todas as dimensões da vida, a encontrar nosso caminho intelectual, emocional, profissional, que nos realize e que contribua para modificar a sociedade que temos.

Educamos de verdade quando aprendemos com cada coisa, pessoa ou ideia que vemos, ouvimos, sentimos, tocamos, experienciamos, lemos, compartilhamos e sonhamos; quando aprendemos em todos os espaços em que vivemos – na família, na escola, no trabalho, no lazer etc. Educamos aprendendo a integrar em novas sínteses o real e o imaginário; o presente e o passado olhando para o futuro; ciência, arte e técnica; razão e emoção.  Ensinar/educar é participar de um processo, em parte, previsível – o que esperamos de cada aluno no fim de cada etapa – e, em parte, aleatório, imprevisível. A educação principal é feita ao longo da vida, pela reelaboração mental-emocional das experiências pessoais, pela forma de viver, pelas atitudes básicas e práticas diante de todas as situações e pessoas. (MORAN,2013)

Aprender deve ser contínuo, estamos o tempo inteiro aprendendo com nossos(as) educandos(as), precisamos entender criticamente a realidade a partir dos aparatos tecnológicos que chegam em nossas mãos e instruí-los da potência destes instrumentos.


REFERÊNCIAS BIBLIGRÁFICAS.

CASTRO, Rogério Gonçalves de. Modernidade e pós-modernidade. Brasília-DF.2017.
LIMA, Paulo Renato. Educação e Novas Tecnologias. Brasília. DF.2017
MORAN, José. Os desafios de educar com qualidade. Papirus, 21ª ed., 2013.
TORI, Romero. A presença das tecnologias interativas na educação. Revista de Computação e Tecnologia da PUC-SP — Departamento de Computação/FCET/PUC-SP. Vol. II No.1. out. 2010.
ZUIN, Antônio A. S. O plano nacional de educação e as tecnologias da informação e comunicação. Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 112, p. 961-980, jul.-set. 2010

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