RECIIS – R. Eletr. de Com. Inf. Inov. Saúde. Rio de Janeiro, v.6, n.1, p.102-104, Mar., 2012[www.reciis.icict.fiocruz.br] e-ISSN 1981-6278


* Resenha

“Sentir e refletir sobre os encontros terapêuticos em Terreiros de Candomblé"DOI:10.3395/reciis.v6i1.576pt
Elisia M. de J. Santos
Mestranda em Ciências Sociais, Universidade Federal da Bahia,Salvador,BA.Brasil

Hospital de Orixás: encontros terapêuticos em terreiro de candomblé Estélio GOMBERG, 1. ed. Salvador: UFBA, 2011. v. 1. 154 p.ISBN-13: 978-85-2320-815-8 


O livro que apresentamos é Hospital de Orixás: Encontros terapêuticos em um
Terreiro de Candomblé, de Estélio Gomberg, publicado em 2011 pela Editora da
Universidade Federal da Bahia, fruto de seu doutoramento no Instituto de Saúde Coletiva desta Instituição de Ensino superior e de projetos de pesquisas, financiados pelo Fundo Nacional de Saúde.
Seu livro é de significativo avanço para compreensão de um Brasil das práticas
terapêuticas desenvolvida pelas religiões e focalizando, especialmente, o Candomblé.
Na apresentação, Miriam Rabelo, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade mencionada, aponta que este estudo aborda de que forma os fiéis, não só de Candomblé, conseguem se estruturar diante de uma sociedade com um sistema precário de saúde a partir de um sistema alternativo que, neste caso, seria os terreiros de Candomblé.
Na Introdução, há uma chamada para o significado do nome do livro e de compreender o porquê de “Hospital de Orixás” através das falas de integrantes do Terreiro pesquisado, posteriormente há uma discussão do sentido da doença, da cura e da saúde nos espaço religioso. A analise dos itinerários terapêuticos religiosos e o processo em que os indivíduos vivenciam é o grande foco deste livro.
A obra esta apresentada em cinco capítulos  o formato em que introduz em cada capítulo é extremamente instigante. Cada capítulo é bastante interessante, pois possuem um caráter etnográfico, contudo apresenta a teoria imbricada no trabalho de campo, tornando esta obra de leitura convidativa.
O primeiro capítulo é denominado de Candomblé e suas expressões, este possuem
mais três subcapítulos. O autor traz em questão o histórico do Candomblé no Brasil, como se configurou e a fundação destes. É neste capitulo que o autor apresenta o Candomblé de Sergipe e justifica a escolha deste espaço e a sua metodologia denominada “aventura antropológica religiosa afrobrasileira”. 
Aponta, através de olhar sócio-histórico, também os problemas da escravidão e das doenças atribuídas aos negros e mestiços. Para Gomberg as religiões de matriz africana é atualmente um espaço de opção social e terapêutica denominando e atuando como “agências sociais”.
No segundo capítulo ele aborda de forma mais profunda o processo da saúde e da doença, concepções e usos sociais de corpos no Candomblé. Ele infere sobre as soluções
encontradas nestes espaços e exemplifica de que forma se explica o adoecimento.
Ainda neste capítulo, apresentamos de que forma se dá a institucionalização dos saberes
terapêuticos (GOMBERG, 2011, p. 61) e dá importância da criação do Programa de
Medicina Tradicional pela Organização Mundial de Saúde. A partir desta iniciativa
começa-se a refletir a importância de métodos alternativos no sistema de saúde e na
preservação do complexo sistema de práticas e de saberes singulares de grupos sociais
tradicionais e como irá incidir nas legitimidades sociais da “medicina afrobrasileira”.
De maneira bastante interessante, o autor apresenta no terceiro capítulo a diferença entre
espaço e território. Para que o leitor possa compreender, a importância do espaço do
Candomblé, sendo fundamental para afirmação e construção da identidade ( (GOMBERG,
2011, p. 86). Gomberg a partir de vários exemplos de terreiros antigos, afirma que o
tombamento destes espaços como entidades públicas, garantia a continuidade da
instituição, maior visibilidade e acima de tudo uma legitimação social dos indivíduos
(GOMBERG, 2011, p. 95).
No quarto capítulo, o autor apresenta as estratégias desenvolvidas pelos terreiros para promoção da saúde dos seus fiéis e clientes (GOMBERG, 2011, p. 113). Ele afirma que a “aceitação” religiosa é individualizada, e só através da consulta oracular (jogo dos búzios), juntamente com a vontade dos consulentes que poderá ter ou não a inserção nestes espaços. As circunstancias para entrada é diversificada, entre as mais comuns: angústia, sofrimentos e infortúnios.
Gomberg, no decorrer deste capítulo, apresenta algumas formas de inserção dos indivíduos e de quais são as soluções.
Através de narrativas apresenta o processo de articulação do “plano individual e coletivo nas estratégias de enfretamento e de soluções colocados por
sujeitos sociais através de recursos materiais e sobrenaturais” (GOMBERG, 2011, p. 139).
E finalmente no último capítulo ou, Caminhos terapêuticos no Terreiro, apresentamos a mudança parcial ou total do status social de cliente para filho de santo iniciado. De que
forma os adeptos neófitos são socializados e por deverás tornam-se membro da família de santo. Gomberg apresenta alguns rituais para antes da iniciação entre eles o Bori – (re)construção da identidade social e religiosa, os ebós- processo terapêutico com folhas e/ou animais, a depender a necessidade do individuo- e a iniciação - a conversão propriamente dita.
É importante salientar que para a prescrição de ebós ou o ritual do bori, não
necessariamente são para os novos adeptos, mas a Iniciação muda por completo a vida dos indivíduos, deixa de ser um consulente e passa a ser um membro, com direitos e deveres no interior e externamente à comunidade religiosa.
Ainda neste capítulo o autor apresenta de forma narrativa de que forma é este ritual de iniciação, como o terreiro se transforma para receber o novo “filho. O autor narra à preparação da casa e todos os esforços para que este processo seja de fato uma renovação para o neófito.
De forma geral, este estudo amplia a nossa visão para além do sistema de saúde pública, apresentando “as ações estratégicas de promoção à saúde concebida em um terreiro de candomblé no Estado de Sergipe” (GOMBERG, 2011, p. 185). Gomberg de forma muita sagaz busca compreender as motivações que levam os indivíduos a optarem por práticas terapêuticas afro- religiosas e a grande relevância de se estabelecer um dialogo entre segmentos religiosos e o poder público e tornando-se assim uma leitura saudável para entendimento dos usos e das estratégias terapêuticas praticadas no Candomblé.

Referência Bibliográfica
GOMBERG, E. Hospital de Orixás: encontros terapêuticos em terreiro de
candomblé. 1. ed. Salvador: UFBA, 2011, v. 1, p. 154.
Recebido em: 16/01/2011
Aceito em: 21/03/2012

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