Trabalho e educação.



O autor Adriano Moreira em seu texto: Educação escolar e transformação social, teve por objetivo discutir a relação entre educação escolar e transformação social. Sua base referencial é marxista e sua análise foi realizada a partir das categorias trabalho, alienação e superação.
Segundo o autor, o ser humano faz de sua atividade vital objeto da própria vontade e consciência. Esta atividade é o trabalho, que “compreende dois aspectos constitutivos: o ato do trabalho (a mediação do homem com seu corpo inorgânico) e o produto do trabalho, aquilo que foi fixado num objeto, que assumiu uma forma física (objetivação do trabalho)”. (MOREIRA, 2011).
Parafraseando Moreira, o homem é um reflexo da sua vida produtiva, a humanização do homem, isto é, a constituição do “gênero humano” ocorre ao longo da história pela relação entre objetivação e apropriação. Embasado pela teoria marxista, a essência humana é o trabalho, e “é este que ratifica o homem como ser humano, que o torna capaz de reconhecer os outros homens como seu próprio ser e viver deliberadamente como um ser social” (MOREIRA apud MARX, 2001, p.140).
Na história, por uma questão de sobrevivência, o ser humano não dispõe sempre de capital e renda, tornando-se um trabalhador assalariado e será forçado a vender seu trabalho. Este será transformado em mercadoria e seu trabalho deixa de lhe pertencer, passando ao controle do capitalista.

Consequentemente, “a transformação do homem em trabalhador assalariado o aliena de sua atividade vital, da natureza, de seu ser genérico e dos outros homens” (MOREIRA apud Mészáros, 1981, p.16). O proletário se torna uma mercadoria e muitas vezes mal paga. Para Mészáros (2005, p.62), para diluir os danos do capitalismo teríamos que ter uma transformação estrutural radical.
Na perspectiva marxista, isso implicaria na superação positiva da propriedade privada, enquanto auto-alienação humana. Para ele, o comunismo é a etapa final de um processo que se inicia com a ascensão do socialismo. O processo de socialização acontece com a apropriação universal da riqueza intelectual, evidenciando o papel importante da educação formal como caminho de superação do capitalismo.

 Ou seja, o papel de dimensão transmissora do conhecimento produzido historicamente pelo homem, propiciando às novas gerações a apropriação das objetivações necessárias para a formação do gênero humano. Portanto, se a superação dos males do capitalismo implica a abolição desse sistema econômico e social como um todo, isto não corresponde à mera eliminação de toda a produção humana efetivada em meio à sociedade burguesa, mas sim à sua elevação a um estágio superior, no qual essa produção será desenvolvida a partir das necessidades humanas, e não mais pela lógica meramente econômica (MOREIRA, 2011).

A educação não se reduz ao ensino, ela está relacionada à produção de ideias, conceitos, valores, símbolos, hábitos, atitudes, habilidades. Assim, “[...] trata-se da produção do saber, seja do saber sobre a natureza, seja do saber sobre a cultura, isto é, o conjunto da produção humana” (MOREIRA apud Saviani, 1997, p.16).
A escola diz respeito ao conhecimento elaborado e não ao conhecimento espontâneo, por conta disso ela também é um instrumento da sociedade capitalista e sua reprodução do homem como mercadoria. Logo, os proletários nos espaços escolares são induzidos via livros didáticos e um currículo escolar burguês a reproduzir interesses burgueses, em detrimento dos interesses populares, sendo, consequentemente, danoso à superação da ordem capitalista. Por conta disso, a questão fundamental para o desencadeamento das transformações sociais necessárias para a superação do capitalismo é viabilizar o acesso das camadas populares ao saber sistematizado.
A escola é entendida como um instrumento que não está, apenas, ao serviço da burguesia contra as camadas populares. Uma educação ideal deverá levar o indivíduo à autonomia intelectual, à liberdade de pensamento e de expressão, a capacidade e a iniciativa de buscar por si mesmo novos conhecimentos.

Trata-se de preparar os indivíduos, formando neles as competências necessárias à condição de desempregado, deficiente, mãe solteira etc. Aos educadores caberia conhecer a realidade social não para fazer a crítica a essa realidade e constituir uma educação comprometida com as lutas por uma transformação social radical, mas sim para saber melhor quais competências a realidade social está exigindo dos indivíduos (DUARTE, 2008, p. 11- 12, itálicos nossos). Consequentemente, evidencia-se que, embora as pedagogias do aprender a aprender tenham sido apresentadas como algo progressista, inovador, na verdade elas são mecanismos conservadores: não valoriza o conhecimento produzido socialmente, tampouco a função social da escola e do professor como agentes que atuam na transmissão deste conhecimento, ou seja: O indivíduo humano se faz humano apropriando-se da humanidade produzida historicamente. (MOREIRA, p. 55, 2011).

O indivíduo se humaniza reproduzindo as características historicamente produzidas do gênero humano. Nela podemos construir uma nova consciência que leve à superação do estado de dominação e desemboque na construção de uma nova ordem social, “a escola não é a alavanca da transformação social, mas essa transformação não se fará sem ela” (CASTRO apud GADOTTI, 1984, p. 73).
A escola é o lugar de construção da cidadania, onde podemos pensar e refletir a sociedade que vivemos, neste lugar como educadora e educador que podemos ter melhores cidadãos e cidadãs.


Referências bibliográficas.

CASTRO, Rogério Gonçalves de. Sociedade da educação no Brasil.2018

MOREIRA, Adriano. Educação escolar e transformação social de Adriano Moreira, Revista FAAC, Bauru, v. 1, n. 1, p. 47-57, abr./set. 2011. Disponível: http://www2.faac.unesp.br/revistafaac/img/Revista_FAAC_01.pdf. Acesso em 01 de novembro de 2018.

Elisia Santos- Socióloga e psicopedagoga.
 

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