História da luta do movimento social da população em situação de rua.
Fonte: Site da prefeitura de Embu das artes, autor desconhecido.
O Brasil é um dos
países mais desiguais do mundo e temos uma população em situação de rua seja
tão antiga quanto a existência das cidades, recebendo um tratamento
extremamente violento e preconceituoso.
Após o fim institucional da
escravidão milhares de ex-escravos e escravas, agora trabalhadores livres e sem
local certo de moradia e trabalho foram lançados nas ruas das cidades.
Este grupo desperta preocupações nas
elites e dos legisladores, o que significou a consolidação de um tratamento
desumano, proibindo o trânsito e recolhia compulsoriamente à cadeia pessoas que
estivessem dormindo nas ruas, descalças ou que não estivessem vestidas
adequadamente. É a partir dessa compreensão que o movimento social da população
em situação de rua vem sendo organizado ao longo dos anos.
Não temos uma história oficial sobre
a organização da população em situação de rua e do movimento pela garantia dos
seus direitos. Contudo, sabemos que os militantes mais antigos, da década de
1970 com a Pastoral do Povo da Rua, da Igreja Católica.
O Brasil saia de uma ditadura
civil-militar e com a redemocratização surgiram o que os sociólogos passaram a
chamar de novos movimentos sociais. Em 1990 o protagonismo da
população em situação de rua se intensifica influenciando órgãos púbicos como a
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social de Belo Horizonte, por exemplo,
a criar em 1993 seu Programa de População em Situação de Rua e promover um
Fórum da População em Situação de Rua.
Outra grande realização foi o Grito dos Excluídos, promovido
pela Pastoral Social da Igreja Católica com outras Igrejas participantes do
Conselho Nacional de Igrejas Cristãs em 7 de setembro de 1995, que chamou a
atenção de toda a sociedade civil para as privações vividas por aqueles que têm
a rua como ambiente de sobrevivência e reivindicou seus direitos.
Havia uma preocupação de denunciar a
exclusão e valorizar os sujeitos sociais das Pastorais Sociais Cristãs. O
primeiro aconteceu em setembro de 1995 com o tema: “A fraternidade e os
excluídos”. Desde então o Grito dos Excluídos acontece sempre durante as
comemorações do dia 7 de setembro, na semana da Pátria.
A história de luta é marcada pela crueldade das agressões ocorridas em
São Paulo entre os dias 19 e 22 agosto de 2004, no episódio conhecido como
Massacre da Sé, quando pessoas que estavam no entorno da igreja foram
violentamente atacadas, organizando um Movimento Nacional da População de Rua
(MNPR) lançado durante o 4o. Festival do Lixo e Cidadania
realizado pela Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis (Asmare) em
Belo Horizonte, em 2005.
A pouca produção de dados oficiais sobre as
pessoas em situação de rua é um problema que aumenta sua invisibilidade e
dificulta o desenvolvimento de políticas públicas. Para tentar solucionar este
problema da ausência de informação alguns trabalhos foram feitos, os primeiros
deles aconteceram entre os anos de 2007/2008 pelo Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome (MDS). Originando a publicação da pesquisa “Rua:
aprendendo a contar: pesquisa nacional sobre a população de rua”, que está
disponível no sítio eletrônico do MDS e pode ser consultada mais
detalhadamente.
Esta identificou a existência de 31.922 adultos
em situação de rua nos 71 municípios que foram pesquisados (sendo 48 municípios
com mais de 300 mil habitantes e 23 capitais, independentemente do tamanho da
população habitante). A partir deste somatório chegou-se a um total de
aproximadamente 50.000 pessoas em situação de rua na época da pesquisa
nacional.
Observou uma maioria de homens (82%) em relação
às mulheres na mesma situação. Esta população, segundo a pesquisa, é em sua
maioria jovem e está em idade economicamente ativa.
Em relação à questão racial a pesquisa
identificou que 39,1% se autoidentificaram como pardos, 29,5 como brancos e
27,9% como pretos.
Sobre o tempo de permanência nas ruas (48,4%) declarou que dormia nas
ruas ou em algum albergue há mais de 2 anos e cerca de 30% há mais de 5 anos.
Há também as pessoas em situação de rua desde seu nascimento, somavam em 2007
cerca de 1,3% dos entrevistados.
É importante salientar que pesquisas locais já
foram realizadas e ajudam a conhecer mais sobre o perfil das pessoas e situação
de rua. A cidade de São Paulo foi a primeira a realizar estes levantamentos no
ano de 1991 quando fez seu primeiro censo com aproximadamente 5.000 pessoas. Em
1997, com a aprovação de uma lei municipal (Lei Municipal nº 12.316/1997,
regulamentada pelo Decreto Municipal nº 40.232/2001) estabeleceram-se alguns
direitos da população de Rua em São Paulo e o governo da cidade ficou obrigado
a realizar o censo da população em situação de rua.
A compilação de dados sobre a população em situação de rua por parte dos
órgãos do governo é uma das politicas públicas mais importantes de Estado. O
somatório de pesquisas somará para que se elaborem políticas de inclusão para
este segmento da população.
Dentro destas políticas no ano de 2006 o Presidente da República
instituiu um grupo de trabalho interministerial (decreto s/n) que tinha como
tarefa fazer estudos e propor políticas públicas sobre a população em situação
de rua. Os trabalhos deste GT foram concluídos no ano de 2009 e apresentados no
2o. Encontro Nacional da População em Situação de Rua. Neste mesmo ano as
propostas apresentadas pelo GT e pelos movimentos sociais foram consolidadas no
texto da Política Nacional de população em situação de rua constituída pelo
decreto no. 7.053 de 23 de dezembro de 2009 que institui a Política Nacional
para a População em Situação de Rua (PNPSR) e também o Comitê Intersetorial de
Acompanhamento e Monitoramento (CIAMP-Rua).
A partir disso temos o diálogo entre poder público e movimentos sociais
para a promoção e defesa de direitos das pessoas em situação de rua e catadores
de materiais recicláveis segundo o que indica a PNPSR e o decreto 7.053 é o
Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua
e dos Catadores de Materiais Recicláveis (CNDDH) previstos no Decreto Nº 7.053
de 23 de dezembro de 2009, em seus artigos 7º e 15; O Ministério dos Direitos
Humanos é o responsável por sua implantação e pelo apoio na criação de Centros
Estaduais.
Referência Bibliográfica.
BRASIL. Decreto nº 7.053
de 23 de dezembro de 2009. Institui a Política Nacional para a População em
Situação de Rua e seu Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento, e
dá outras providências. Diário Oficial, Brasília, DF, 23 dez. 2009.
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação. Rua Aprendendo a Contar:
Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua. Brasília: MDS: 2009.
BOVE, Figueiredo. População em Situação de Rua. Brasília:
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República - SDH/PR, 2015.
PINTO, R. M. P.; GONDIM, A. B. C. Trabalho e População em
Situação de Rua: uma análise à luz da questão social. VII Jornada Internacional
de Políticas Públicas, São Luis, Ago. 2017. Disponível em:
<http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2017/pdfs/eixo1/trabalhoepopulacaoemsituacaoderuaumaanalisealuzdaquestaosocial.pdf>.
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