Fichamento: A Crise Na Educação de Hannah Arendt
I
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A crise geral que se abate sobre o mundo
moderno manifesta-se diferentemente nos vários países.
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Na América, um dos aspectos mais
característicos é a crise periódica da educação.
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A
crise força-nos a regressar às próprias questões e
exige de nós respostas, novas ou antigas, mas, em qualquer caso, respostas sob
a forma de juízos diretos.
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Uma
crise só se torna desastrosa quando lhe pretendemos responder com ideias
feitas, quer dizer, com preconceitos.
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Na América, uma crise na educação se poder
tomar verdadeiramente um fator político.
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A
educação na América tem um papel diferente pelo facto de a América ter sido
sempre uma terra de imigrantes.
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A escolarização, a educação e a
americanização dos filhos dos imigrantes pode realizar essa tarefa imensamente
difícil de fundir os mais variados grupos étnicos.
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. Na Europa, há uma crença de que é
necessário começar pelas crianças se se pretendem produzir novas condições.
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Faz
parte da natureza da condição humana que cada nova geração cresça no interior
de um mundo velho, de tal forma que, preparar uma nova geração
para um mundo novo, só pode significar que se deseja recusar àqueles que chegam
de novo a sua própria possibilidade de inovar.
·
Nada disto acontece na América e é justamente
por isso que, aqui, é tão difícil julgar corretamente estas questões.
·
A crise na educação americana anuncia, por um
lado, o fracasso da educação
progressista e, por outro, constitui um problema extremamente difícil
porque surge no seio de uma sociedade de massas e em resposta às suas
exigências.
II
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Estas medidas catastróficas podem ser
esquematicamente explicadas por intermédio de três ideias-base: a primeira é a
de que existe um mundo da criança e uma sociedade formada pelas crianças; que
estas são seres autônomos.
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A
segunda ideia-base a tomar em consideração na presente crise tem a ver com o
ensino.
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Sob influência da psicologia moderna e das
doutrinas pragmáticas, a pedagogia tornou-se uma ciência do ensino em geral ao
ponto de se desligar completamente da matéria a ensinar.
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A terceira ideia-base, ideia que foi durante
séculos sustentada no mundo moderno e que encontrou a sua expressão conceptual
sistemática no pragmatismo.
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A
intenção confessada não é a de ensinar um saber mas a de inculcar um
saber-fazer.
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Esta forma de manter a criança afastada é
artificial porque, por um lado, quebra as relações naturais entre crianças e
adultos, as quais, entre outras coisas, consistem em aprender e ensinar, e
porque, ao mesmo tempo, vai contra o facto de a criança ser um ser humano em
plena evolução e a infância ser uma fase transitória, uma preparação para a
idade adulta.
·
Na América, a crise atual resulta do
reconhecimento do carácter destrutivo destes três pressupostos e do esforço
desesperado que está a ser feito para reformar todo o sistema de educação, isto
é, para transformá-lo completamente.
III
·
Uma crise na educação
suscitaria sempre, o reflexo de uma crise muito mais geral e da instabilidade
da sociedade moderna.
·
A
criança partilha o estado de devir com todos os seres vivos.
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Se se considera a vida e a sua evolução, a
criança é um ser humano em devir, tal como o gatinho é um gato em devir. Mas a
criança só é nova em relação a um mundo que já existia antes dela, que
continuará depois da sua morte e no qual ela deve passar a sua vida.
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Os pais humanos, não apenas dão vida aos seus
filhos como, ao mesmo tempo, os introduzem no mundo.
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As crianças por natureza, necessitam da
segurança de um abrigo para poder amadurecer sem perturbações.
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A escola é antes a instituição que se
interpõe entre o domínio privado do lar e o mundo, de forma a tomar possível a
transição da família para o mundo.
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A competência do professor consiste em
conhecer o mundo e em ser capaz de transmitir esse conhecimento aos outros. Mas
a sua autoridade funda-se no seu papel de responsável pelo mundo.
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As crianças não podem recusar a autoridade
dos educadores, como se estivessem oprimidas por uma maioria adulta — ainda
que, efetivamente, a prática educacional moderna tenha tentado, de forma
absurda, lidar com as crianças como se se tratasse de uma minoria oprimida que
necessita de ser libertada.
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No fundo, estamos sempre a educar para um
mundo que já está, ou está a ficar, fora dos seus gonzos.
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A educação deve proteger a novidade e
introduzi-la como uma coisa nova num mundo velho, mundo que, por mais
revolucionárias que sejam as suas ações, do ponto de vista da geração seguinte,
é sempre demasiado velho e está sempre demasiado próximo da destruição.
IV
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A verdadeira dificuldade da educação moderna
reside, pois no facto de, para lá de todas as considerações da moda sobre um
novo conservadorismo, ser hoje extremamente difícil garantir esse mínimo de
conservação e de atitude de conservação sem a qual a educação não é
simplesmente possível.
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Educar, nas palavras de Políbio, é apenas
«permitir a alguém ser digno dos seus antepassados»
·
A reflexão sobre os princípios da educação
deve ter em conta este processo de estranheza face ao mundo.
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A educação é também o lugar em que se decide
se se amam suficientemente as nossas crianças para não as expulsar do nosso
mundo deixando-as entregues a si próprias, para não lhes retirar a
possibilidade de realizar qualquer coisa de novo, qualquer coisa que não
tínhamos previsto, para, ao invés, antecipadamente as preparar para a tarefa de
renovação de um mundo comum.
Arendt,
Hannah. A Crise Na Educação. 1957,
pp. 493-513. Disponível em: http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/otp/hanna_arendt_crise_educacao.pdf. Último acesso em: 19/06/2019
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