O conto sarcástico de Machado de Assis.
Figura 1: Machado de Assis
Sou apaixonada por Machado de Assis, na
infância mergulhei em Dom Casmurro e nos ferrenhos debates sobre Capitu, sobre
a bendita traição ou não desta mulher que sofria em relacionamento abusivo com
Bentinho, preciso escrever de que lado eu era? Posteriormente “cai” na conversa
de Memórias póstumas de Brás Cubas e fiquei enlouquecida por aquele homem que
conseguia falar de forma tão irônica e pontual, mesmo depois de morto.
Percebo que ler Machado de Assis é mergulhar
na sociedade aristocrática portuguesa e brasileira, é fazer uma analise sociológica
e histórica dos personagens e das construções sociais.
Figura 2: Carolina de Jesus
Machado era um homem negro, de saúde frágil que
consegue trilhar seu caminho intelectual de forma muito autônoma, parecido com
outra autora, também maravilhosa, Carolina de Jesus. Ele era autodidata e um
mestre das palavras, nas suas obras o que mais me seduz são os traços de sarcasmo,
ironia, capítulos curtos, personagens metafísicos, além de basear todo um
enredo segundo as memórias de personagens fabulosos.
Figura 3: Conto de escola.
No Conto da Escola, texto que iremos
dissecar, Assis começa apresentando um sobradinho dos anos de 1840, no fim da
Regência, um espaço rústico e numa comunidade popular. O foco narrativo é feito
em primeira pessoa e conta à história de um menino que no caminho da
escola lembra-se das sovas que recebeu do pai.
Narra também à história de Raimundo que “gastava
duas horas em reter aquilo que a outros levava apenas trinta ou cinquenta
minutos”, este sofria com a dificuldade de aprendizagem e ainda tinha um
educador extremamente severo.
Nosso garoto narrador “acabava sempre antes
de todos”, e naquele dia da narração não foi diferente.
Nosso menino padecia de uma ansiedade, pois
terminava sua atividade sempre antes e ficava a imaginar as coisas boas que
tinha fora da escola.
Contudo, naquele dia Raimundo “propôs-me um
negócio, uma troca de serviços; ele me daria à moeda, eu lhe explicaria um
ponto da lição de sintaxe”. Seria a troca de lição por dinheiro, no inicio
nosso inocente menino não queria recebê-la, mas no final passava-lhe a
explicação em um retalho de papel.
Infelizmente ele foi pego, pois foi dedurado
pelo colega e por conta daquele modelo de educação foi agredido com doze bolos
nas mãos, além de um longo sermão, ele: “Recolhi-me ao banco, soluçando, fustigado
pelos impropérios do mestre”.
No
outro dia, ainda com vergonha, mas pensando na moeda, escuta o batalhão de
fuzileiros e os “soldados vinham batendo o pé rápido, igual, direita, esquerda,
ao som do rufo; vinham, passaram por mim, e foram andando”. Era o fim da
primeira Regência.
E naquele dia ele tinha tido o “primeiro
conhecimento, um da corrupção, outro da delação”, havendo então um debate ético,
pois o correto a seu ver é explicitamente conflitante com o correto na visão do
colega que os dedura, volta para casa sem a moeda nem peso na consciência.
Referência.
ASSIS, Machado de. Conto de Escola, Fonte: ASSIS,
Machado de. Obra Completa. V. II. Rio de Janeiro: Nova Aguilar 1994.
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