Os ninguéns!

As pulgas sonham em comprar um cão, e os ninguéns com deixar a pobreza, que em algum dia mágico de sorte chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não chova ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda coce, ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura. Os ninguéns: os filhos de ninguém, os dono de nada. Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos: Que não são embora sejam. Que não falam idiomas, falam dialetos. Que não praticam religiões, praticam superstições. Que não fazem arte, fazem artesanato. Que não são seres humanos, são recursos humanos. Que não tem cultura, têm folclore. Que não têm cara, têm braços. Que não têm nome, têm número. Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local. Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata. Eduardo Galeano, O Livro dos Abraços, 1989, p. 42. https://www.youtube.com/watch?v=_wy_p1DtyeU

Comentários

  1. Por outro lado, o ter não significa ser feliz. Tantos ricos que são pobres de amor e de vida, tb adoecem e sofrem seus vazios existenciais. O mundo exterior é um caos e o equilíbrio é encontrado dentro de nós. Os ninguéns representam a essência humana real, enquanto que os milionários se isolam da humanidade.

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